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Nesse momento, aos vinte e cinco dias do mês de agosto, dia do feirante, dia do soldado, de dois mil e vinte e dois, os pensares oscilam entre a razão e a emoção. Entre os questionamentos importantes da vida, onde será que fui boa filha, irmã, esposa, mãe, profissional, amiga?
Será que os percalços da vida estão estancados nas cicatrizes das feridas do meu corpo e de minh'alma? Não sei dizer, não.
Talvez, mãe tenha sido de alguns pupulos, até dos meus amigos da pré escola lá no Instituto Costa Braga (Rua Barão de Cotagipe), mas com os meus, de minha prole, não sei o que houve. Brigas indefinidas, falta de dinheiro para os três herdeiros, já que dois se foram tão pequenos ao convívio dos anjos novamente.
De repente, penso no que vou deixar para meus filhos que cá estão. Apenas peço EDUCAÇÃO mais limpa, segura, mais inclusiva, que alcancem seus estudos; pois se com o estudo que tenho, eu não os consigo manter, imaginem eles sobreviverem num futuro com mais doenças, sem árvores, com mais contaminantes nas águas e no ar, e as mágoas de mim. Peço que estudem, nem que for um curso técnico, mais completo, e se formem de maneira real. E, que os três: Alexia Cristina, Emmanuel e Anna Clara, sejam ambientalistas, não doentes como sou ou fui. Quero deixar claro que o pouco que tenho, é uma casa, essa casa em que moramos na Vila Missionária, doada pelos avós Deonilde e Francisco, com suor, trabalho e sangue, aliás muito trabalho, que seja em partes iguais dividida pelos três, e que não briguem por dinheiro, façam como eu e o tio deles (meu irmão), que apesar do financeiro ser deixado pelos nossos pais, gostaríamos deles aqui. Mas, o Ser Humano não dura para sempre não. Volta ao pó, pois é pó, criado do barro, e o sopro dado por Deus.
Nesse testamento, também quero deixar meus manuscritos guardados agora numa das cômodas da Vó Deonilde, leiam ou simplesmente doem a uma boa editora, para que essa possa lucrar com meu nome, dando 25% a vocês três do que venderem dos livros póstumos publicados algum dia. Muitos textos são poesias, outros reflexões, outros ações vividas, outros paixões e loucuras Nitchidianas da minha mente.
Quero deixar ainda o cultivo da grama, das rosas, das suculentas no jardim, e dos animais que ainda estiverem vivos, por favor, cuidem deles até o fim. Ame-os com afeto, e de certo, Deus retribuirá esse amor.
Não quebrem a casa, mas façam dela um LAR!
E, nesse meu testamento, não sei se o pai de vocês estará bem, vivo ou já terá ido, se vivo cuidem dele por mim, pois foi o melhor companheiro que Deus poderia ter escolhido, e o melhor pai que já vi.
O amor que ele tem, tinha por vocês, as ações que faz e fez não tem outro igual. Sei que eu gostaria de tê-lo mudado em muitas coisas, mas o fato é que a vida me deu alguém maravilhoso, e eu que não soube agradecer na hora certa.
Hoje a incerteza de uma aposentadoria quanto professora me apavora, queria que a EDUCAÇÃO tivesse melhores profissonais, como tive em minha vida escolar, tivesse mais inclusão, e um salário mais digno, pois todos furtam da educação um tostão, e muitos profissionais da mesma a cada ano, e depois da passagem do governo do tal PSDB (Tucanos), e o tirar deireitos adquiridos, sofremos muito. Muitos colegas se foram sem ter a aposentadoria completa. A vida se tornou incerta, a de lecionar, gerir, transformar a Educação. Lembro que quando coordenadora, li que o Inspetor de alunos, era a pessoa importante da escola que ia a casa do aluno, saber porque tinha faltado. Era pago com mais valor, hoje vemos os sofrimentos dos agentes de organização escolar, como são. Se até Ministro da Educação nos furta, o que será dos demais?
Meu testamento, deixo escrito, a olhos vistos, que em um ano, tentei aprender a cozinhar, após a partida de mamãe, se não soube, peço desculpas, mas tentei, isso eu bem sei. Lembro que o único que amava meu café, era meu primo Carlos Ferreira, e hoje acham que nada de bom faço. Quero deixar filhos melhores para o Planeta, e pedi que falem aos meus netos quando virem na hora certa (de Deus), que tiveram uma avó sonhadora, louca, e que simplesmente queria mais justiça nessa trama da Vida, e não viver como Castro Alves escreveu, em pleno século XXI, ainda estando num grande navio negreiro, onde os fracos, são cada vez mais deixados de lado. Estamos famintos, sofridos em nossas guerras internas.
Queria que o Mundo tivesse mais aquarela, como Toquinho cantou, e que meus filhos sonhassem e trabalhassem mais, que cuidassem da casa, assim, como fizeram meus pais: Deonilde de Jesus Gonçalves e Francisco Da Silva Mendes, uma família Portuguesa, guerreira e verdadeira.
Queria dizer que Elis, estava certa ao cantar "Como nossos pais", a vida é um ciclo vicioso, e um dia vocês entenderão.
Quero no meu testamento deixar escrito, que se não dei grana, e que essa era insuficiente, é por que não tinha, então, tinha que dizer Não. Trabalhei desde os 18 anos, e aos cinquenta e poucos, as dores avançaram , acumularam de poros os meus ossos, e eu não quis mais lecionar, mesmo ama falar de Química, Atomística, Química Ambiental, mas não foi mais possível, e esperar a aposentadoria, o descaso que nos fazem, só causou mais dor.
Quero deixar, registrado que se voltem sempre afamíli, não abandonem seus entes por parte de pai ou por minha parte, estejam sempre em contato, mesmo além mar, pois fazem parte da História de vocês, meus filhos, príncipe e minhas princesas a quem amo e tanto amei.
São Paulo, 25 de agosto de 2022.
Tereza Cristina G Castro
Manuscrito às 12 h e 31 minutos.